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a natureza e o tempo (o mundo)

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SOBRE A LONGA ANTIGUIDADE DOS MUNDOS
aurora    3500-64 a.C.    63-1054 d.C.    1054-1750


MUNDUS NOVUS [1]: APRESENTAÇÃO
Euler Sandeville Jr.
2016-2018


como citar:
SANDEVILLE JR., Euler. “Mundus Novus: apresentação“. A Natureza e o Tempo (o Mundo), on line, São Paulo, 2016.


Como imagens nesta abertura desta seção, ofereço-lhes três cenas. São cenas de almoço muito sofisticadas, reproduzidas abaixo, onde a refeição é tanto ordem social quanto é inserida em uma ordem cósmica ou do destino humano.

Como você poderá verificar, esses almoços não são em nada comparáveis, nem na finalidade, enredo, técnica e suporte, contexto social. As datas de realização abrem e fecham o quatrocentos, o que obviamente não dá conta da complexidade das relações sociais e do imaginário dessa “Longa Idade Média” ou “Era Moderna”, mas é suficiente para ilustrar que ambas indicam temporalidades ampliadas para muito antes e depois da data estrita de sua criação.

A primeira, dos irmãos Limbourg (Herman, Paul, e Jean, todos falecidos com menos de 30 anos em 1416, juntamente com Jean de Berry) integra o extraordinário Les très riches heures du duc de Berry (literalmente, As muito ricas horas do Duque Jean de Berry). O Duque (1340-1416) era filho do rei João II e irmão de Carlos V da França, de Luis I de Nápoles (Duque de Anjou, 1339-1384) e de Filipe II (Duque de Borgonha, 1342-1404). Depois dos irmãos Limbourg trabalharam também no livro Jean Colombe (1430-1493) e possivelmente Barthélemy van Eyck (c. 1420-posterior a 1470).


Frères de Limbourg, Les très riches heures du duc de Berry, mês de janeiro, museu Condé, Chantilly, ms.65, f.1v, c. 1411-1416. This is a faithful photographic reproduction of a two-dimensional, public domain work of art. The work of art itself is in the public domain for the following reason: This work is in the public domain in its country of origin and other countries and areas where the copyright term is the author’s life plus 100 years or less.


Esses Livros de Horas eram devocionais, com o calendário eclesiástico e orações nas horas canônicas do dia. Nesse livro específico, destacam-se os castelos, paisagens e cenas laicas de divertimentos, inseridas em um campo zodiacal, indicando o movimento dos astros na passagem do ano. O mês de janeiro, reproduzido abaixo, retrata um banquete de ano novo, com o Duque à direita. Repare-se sua posição solene, em perfil, com o manto azul estampado estendendo-se sob a mesa, equilibrando-se com o personagem e com o azul do zodíaco acima, pontuando-se por toda a magnífica ilustração os azuis, vermelhos, dourados e branco.


São duzentos e seis fólios, dos quais mais da metade são ilustrações de página inteira em um formato de 21 centímetros de largura por 29 centímetros de altura. Os pigmentos eram obtidos de matéria mineral ou por processos químicos, usando a goma-arábica como cola. Por exemplo, o verde era obtido a partir de malaquita e o azul de lápis-lazúli. Produtos obtidos a um preço considerável no Médio Oriente.

As ilustrações seguintes reproduzem O Banquete de Casamento (Nastagio Degli Onesti, de 1483), do pintor florentino Sandro Botticelli (1445-1510). São quatro pinturas realizadas em torno de 1483, dando visualidade a uma das novelas do Decameron (1348-1353) de Giovanni Boccaccio (1313-1375). A obra foi encomendada por Lorenzo il Magnifico de Medici (1449-1492) para o casamento de seu sobrinho, Gianozzo Pucci, com Lucrecia Bini, em 1483.

Nos dois primeiros quadros o jovem Nastagio, rejeitado pela amada Paola Traversari (como convinha ao amor cortês de Petrarca e Dante, mas dele escapando por um artifício que leva ao enlace matrimonial), contempla cena brutal, retratando a loucura do amor paixão e sua condenação ao fim trágico. Como a cena se repetia infinitamente, Nastagio organiza um banquete, no qual sua amada, ardilosamente é impactada pelo trágico fim do amor e do ciúme, e cede ao casamento com o jovem, dando lugar então ao banquete de casamento. Estes dois quadros, ambos almoços ao ar livre, também estão reproduzidos abaixo.

Devoção, paixão, matrimônio, convívio social e enquadramento em uma paisagem que é cósmica e civilizatória, expondo o destino e o artifício humanos, bem como sua submissão a uma ordem social que deve prevalecer. Bom almoço aos convidados.


O Banquete na Floresta (Nastagio Degli Onesti), de 1483, têmpera sobre tela, 0,83 m x 1,42 m, de Sandro Botticelli (Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, 1445-1510). Este material é de domínio público nos países onde os direitos autorais se estendem por 100 anos (ou menos) após a morte de seu autor. A posição oficial da Wikimedia Foundation é que «reproduções fiéis de obras de arte bidimensionais que estejam do domínio público estão também no domínio público e que reivindicações em contrário constituem um ataque ao próprio conceito de um domínio público». Para mais detalhes, consulte Commons: Quando usar a marcação PD-Art. Portanto, é considerado que esta reprodução fotográfica está também no domínio público.


O primeiro banquete se dá às portas da floresta em que se desenrola a trágica cena, que invade e desorganiza o encontro. O segundo almoço já é o do casamento, se dá em um contexto que tem uma cidade no horizonte, enquadrado em um cenário solene de uma galeria clássica com um arco do triunfo ao fundo. No capitel à frente se vêm os brasões das famílias Pucci, Medici e Bini.


O Banquete de Casamento (Nastagio Degli Onesti), de 1483, têmpera sobre tela, 0,83 mx 1,42m, de Sandro Botticelli (Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, 1445-1510). Este material é de domínio público nos países onde os direitos autorais se estendem por 100 anos (ou menos) após a morte de seu autor. A posição oficial da Wikimedia Foundation é que «reproduções fiéis de obras de arte bidimensionais que estejam do domínio público estão também no domínio público e que reivindicações em contrário constituem um ataque ao próprio conceito de um domínio público». Para mais detalhes, consulte Commons: Quando usar a marcação PD-Art. Portanto, é considerado que esta reprodução fotográfica está também no domínio público.


Porém, consideradas neste contexto, bem representariam as profundas transformações desse período, as ilustrações rigorosas do livro de Juan Valverde, anatomista médico espanhol. Historia de la composición del cuerpo humano, com 42 gravuras de cobre atribuídas a Gaspar Becerra e Nicolas Beatrizet, cerca de 1556, Espanha…

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Juan Valverde, anatomista médico espanhol. Historia de la composición del cuerpo humano (História da composição do corpo humano), com 42 gravuras de cobre atribuídas a Gaspar Becerra e Nicolas Beatrizet, cerca de 1556, Espanha


Juan Valverde, anatomista médico espanhol. Historia de la composición del cuerpo humano (História da composição do corpo humano), com 42 gravuras de cobre atribuídas a Gaspar Becerra e Nicolas Beatrizet, cerca de 1556, Espanha


NOTAS

[1] VESPÚCIO, Américo. Mundus Novus. Carta a Lorenzo di Piefrancesco dei Medici. In BUENO, Eduardo (org.). Novo Mundo. As cartas que batizaram a América. Introdução e notas Eduardo Bueno. Tradução das cartas João Angelo Oliva, Janaina Amado Figueiredo e Luís Carlos Figueiredo. São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2003, pg 33 a 61.


como citar:
SANDEVILLE JR., Euler. “Mundus Novus: apresentação“. A Natureza e o Tempo (o Mundo), on line, São Paulo, 2016.







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