Adotamos a seguinte nucleação cognitiva, buscando atitudes que promovam a paz, com inspiração de valores humanistas e solidários:
a paisagem é entendida em sua materialidade e sua morfologia, em suas dinâmicas e processos ambientais, como experiência partilhada social, cultural e existencialmente, e portanto como uma condição de ser no mundo, articulando esferas da subjetividade, do simbólico, da sociabilidade no cotidiano, e dos tempos nos quais a paisagem se forma como herança e patrimônio coletivo que nos transcende, mas que é também um futuro que vamos definindo com nossas ações, sendo todos coautores de seu destino; é assim a materialização contraditória de nossas desigualdades e brutalidades, de nossas esperanças e impossibilidades morais, de nossas ilusões materiais e de nossas sensibilidades.
a cidade é pensada como processo de educação ativa e de construção de conhecimentos e de práticas coletivas, que não se dissocia das condições naturais e significa-se diante das poéticas da natureza e do trabalho com suas contradições, suas permanências e transformação, abrigando as possibilidades de realização e sonho do habitar o nosso mundo, o nosso tempo; é entendida também como estrutura urbana e territorial decorrente de uma produção desigual e injusta do espaço humano habitado e sua história.
a memória, a imaginação e a história são percebidas como constituintes ativos do mundo em transformação, e portanto, criativos: são essenciais à percepção e transformação de nossas práticas sociais ou à sua reprodução, ao mesmo tempo em que geram escrituras e representações sobre o passado e o presente, que indicam nosso lugar desejado no mundo e em nossa própria história (lugar que pode cegar-se pela luz intensa do presente lançada ao passado, que reduz o que dele nos alcança a uma zona sombria do que somos [2]), colocando questões éticas que são tão fundamentais quanto são difíceis aos seres em ação.
a arte é vivida como experiência sensível e cognitiva de descoberta de si e do outro no mundo, por meio de linguagens que podem ser dinâmicas e não lineares, carregadas de densidades subjetivas e desejos, de intencionalidades, mas é um processo também de construção de afetividades e de celebração; negativamente é de um hedonismo extremado, uma manifestação exacerbada de si e um esforço de submissão do coletivo à sua diferença: sua potência é a sensibilidade e a síntese perceptiva e narrativa mas, a par de sua potência, a arte é também uma ilusão vaidosa e fútil, cuja sedução é falar de alguma verdade da existência que escapa ao lugar comum.
a pesquisa é um processo aberto e experimental contínuo e não linear de conhecimento e posicionamento no mundo, que depende tanto da vivência quanto do acúmulo de conhecimentos e modos de conhecer os processos, sendo fundamentalmente aprendizado e partilha e que, portanto, deve sim alimentar-se de razões éticas e sensíveis, bem como de processos partilhados e participantes com aqueles a quem se refere a produção, divulgação e debate do conhecimento, o que contribui para seu alcance humano e social. A construção de conhecimento e essa crescente insanidade produtiva e normativa das instituições acadêmicas atuais pouco têm em comum, mas isso não deve nos cegar e nos tornar néscios ao ponto de não nos percebermos herdeiros de esforços imensos de gerações que nos antecederam, das quais somos devedores para o melhor e o pior, de modo possamos usufruir do conhecimento produzido. Convém lembrar a máxima de olhar o mundo sobre os ombros de gigantes, mas também convém atentar para o que se pisoteia pelo caminho ao se fazer isso e para aquilo que passa desapercebido no caminhar rápido dos passos largos se os gigantes re-apresentarem um mundo já pronto [3] ao qual o mundo da existência e das práticas apenas deva conformar-se.
a alegria, a satisfação, o amor, a amizade, o sonho, a confiança mútua são constituintes necessários de uma busca cognitiva que se pretenda relevante, que se comprometa com a dimensão humana e social dos nossos saberes, que é uma condição estética e ética, mas que só pode realizar-se concretamente na tensão das próprias contradições e potências como um longo processo de aprendizagem ativa entre e com outros; é também uma condição que se opera no conhecimento de Deus, na máxima dos evangelhos em que conhecer a Deus implica amar ao próximo.
Os princípios, valores e a nucleação cognitiva que apresento nesta seção sobre o site, são extraídos dos conhecimentos antigos, mas adaptados para o diálogo com uma sociedade que se pretende laica para ser inclusiva. Por isso mesmo não reproduzem a hipervalorização e autonomização da individualidade da modernidade, nem a incerteza anticognitiva com a fragmentação das pautas e perda de significado das narrativas da pós-modernidade. Em especial, recusa-se a separação nociva entre a prática e o conhecimento. Não são a proposição de um ideal pronto, instantâneo, nem se pretendem imunes ao erro, tão características das dicotomias modernas.
aprender com a cidade, aprender na cidade