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FALAR, OUVIR E AGIR NA JUSTIÇA: GUARDA A ESPADA


Euler Sandeville Jr,
São Paulo, 11 de dezembro de 2019


Pois não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu vitória, e sim a Tua destra, e o Teu braço, e o fulgor do Teu rosto, porque te agradaste deles. [Salmo 44.3]

Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus. [Tiago 1.19,20]

Mas, como insistissem em perguntar-lhe, [Jesus] ergueu-se e disse-lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. [João 8.7]


Todos os tempos da história humana estiveram embebidos em injustiça, incertezas e intensas mudanças, as mais diversas. Porém, parece que alguns momentos se afiguram como de convergência a uma crise muito densa, com agravamento da percepção dessas condições na intensificação dos processos de mudança. Agravamento da percepção que não se traduz, por si só, na consciência do que nos move e do como nos movemos. O resultado é que a insegurança, alimentando-se de si mesma e de seu desespero ou desencanto, multiplica a insegurança e o medo, reconhecidos ou não como tais.

A incerteza com os valores praticados, o medo da perda do que se imagina ter conseguido ou o medo do que o poder do outro representa e o ódio ou a ira com a diferença, geram e ampliam a indiferença em suas diversas formas e ganham assim muito espaço nos corações e atos. O medo e o ódio são sentimentos tão intensos quanto são banais, gerando um estado nebuloso e difuso, sombrio, que hora paralisa e silencia, hora agride e até mesmo corrói e destrói, lenta e violentamente.

Torna-se muito fácil – isto em nossa sociedade – a tentativa passional de reunificar as pautas capturadas pelos desejos diante de um mundo em mudança e dissolução do conhecido. Condição que favorece a força de personalidades populistas e oportunistas que prometem segurança e realização. Porém, promessas desse tipo, populistas ou não, geralmente sustentam-se com explicações singelas do mundo e da sociedade, partidarizadas e polarizadas, que expõem suas contradições e dramas, não para superá-los, mas para capturá-los nas chaves de seu próprio sistema.

A grande força sombria desses momentos é deslocar o sentido da vida para os acirramentos polarizados e para uma intensidade com foros de verdade, mas banal. A consequência não é a compreensão, mas uma crescente necessidade de conflito que, obviamente, não toca nas causas humanas mais profundas, mesmo que as invoque; quando muito, resvala pela estereotipação dos comportamentos e disputas narrativas.

Pelo que observei, em pouco mais de meio século, nesses tempos em que as crises das mudanças tornam-se mais evidentes, é comum as pessoas exacerbarem suas contradições diante das contradições mais amplas em que se encontram. Daí, sentirem a necessidade de estabelecerem, pela força física e ou discursiva, o que consideram sua justiça ou valor, em nome de algum ideal político ou moralizante que lhes soa verdadeiro e até mesmo invocando a um deus (político, identitário, religioso) que é a imagem da alma atormentada.

No entanto, não é condição apenas desses momentos de crise as pessoas reagirem impulsivamente, falarem sem pensar na responsabilidade do que dizem, antagonizarem e negarem o outro em nome de alguma radicalidade ou certeza política e afetiva. Isso atravessa todo o cotidiano, razão pela qual pode ser exacerbado em momentos críticos. O alto preço da violência, da mentira, da injustiça, da corrupção dos valores, das promessas fáceis, oculta-se assim em esperanças superficiais que se escondem no cotidiano, até parecerem naturais e não vergonhosas, como realmente são.

As Escrituras, entretanto, nos ensinam um caminho bem distinto, nem por isso fácil, principalmente nos momentos de exaltação, conflito ou ameaça. A noite em que Jesus foi traído e preso foi um desses momentos. Pedro, que era um pescador, uma pessoa simples mas intensa, no atordoamento da situação e sem entender o sentido dos ensinos de Jesus, viveu essa crise em toda a intensidade possível. Tomado de indignação, feriu com sua espada o servo do sacerdote que vinha prender Jesus. O Senhor imediatamente o repreende, socorre 1: Lucas 22.50, 51 o servo do sacerdote ferido e lhe ordena: guarda tua espada.

Então Simão Pedro, que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. Disse, pois, Jesus a Pedro: Mete a tua espada na bainha; não hei de beber o cálice que o Pai me deu? [Jo 18.10,11]

Os momentos seguintes de Jesus e de Pedro são bem conhecidos. Jesus é preso e sofre humilhação, tortura e martírio. É arguido com mentiras, são apresentadas pessoas que dão falso testemunho acerca dele, é ultrajado, tratado com violência e desrespeito, apesar das curas que realizou e de seus elevados ensinos que, sem dúvida, foram inquietantes para os religiosos e poderosos de seu tempo.

Hoje, vemos a lei de Deus ser ultrajada e Cristo ser desrespeitado de modo agressivo e ultrajante por pessoas sem fé ou respeito. O que surpreende não é que ajam assim, mas que esqueçamo-nos de que isso já ocorreu exatamente dessa forma antes. Não há originalidade alguma, senão na cabeça de quem o faz. A resposta de Jesus foi, e continua sendo, diferente da nossa: morreu para a salvação de seus ofensores, ente os quais nós estávamos.

E alguns começaram a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e a dar-lhe socos, e a dizer-lhe: Profetiza. E os guardas receberam-no a bofetadas. [Marcos 14.65]

Nisso os soldados do governador levaram Jesus ao pretório, e reuniram em torno dele toda a coorte. E, despindo-o, vestiram-lhe um manto escarlate; e tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e na mão direita uma cana, e ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e davam-lhe com ela na cabeça. [Mateus 27.27-30]

Jesus não ofendeu nem ameaçou ninguém, não ficou defendendo-se ou a Deus, evitou a violência, como no momento em que conteve Pedro e curou o servo do sumo sacerdote. De modo algum compartilhou com esses atos de seus ofensores, nem há qualquer adocicamento da parte dele dessas injustiças. Sua resposta é não participar delas, não se tornar como elas, e realizar a obra para que veio. Não há transigência alguma, sua diferença com elas é claramente estabelecida.

Então, como Pedro, temos que aprender que empunhar nossa espada não produz a justiça divina, nem poderia. Pedro, privado do ato violento, experimenta um profundo sentimento de derrota, perplexidade e impotência 2: Marcos 14.71. Por trás do ato impulsivo e violento de Pedro estava um profundo sentimento de impotência e covardia 3: Marcos 14.72, ainda que também um desejo profundo de estar com Cristo.

A superação desse momento de profunda fragilidade que sente, que evidencia a vaidade e insuficiência de sua força e depois também de sua astúcia desajeitada, em que seus esforços fundados nessa base se revelam inúteis e até desastrosos, o colocou diante do sentido maior do evangelho e do Cristo a quem tanto ama 4: João 21.15-17.

Guardar a espada é, portanto, apenas o primeiro passo para uma cura que pode vir apenas de Cristo. Já não me refiro à cura do ofensor de Jesus ferido por seu discípulo. Mas à cura do discípulo que se torna também ele uma pessoa a não entender o sentido e extensão da vinda de Jesus e da justiça de Deus.

Guardar a espada é um passo para uma consciência e uma cura mais profunda que temos que desenvolver, não é todo o caminho a ser percorrido. Caminho que é bem mais elevado e de realização bem mais ampla do que esse primeiro ato de fé, o de guardar a espada da força da nossa língua ou do nosso braço diante da ameaça e da indignação e caminhar com Jesus pela fé, seguindo o seu amor, sua humildade e sua paciência. Não é um passo fácil, na pressão dos acontecimentos. Mas é um passo que, se não for dado, não chegaremos ao conhecimento da estatura de Cristo, nem de sua virtude.

O Espírito está falando à Igreja e convocando os cristãos a guardarem a espada. Mas é só o começo.



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notas


1 Lucas 22.50, 51: Então um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. Mas Jesus disse: Deixei-os; basta. E tocando-lhe a orelha, o curou. O evangelho de João atribui a Pedro o ato.


2 Marcos 14.71: Ele [Pedro], porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.


3 Marcos 14.72: (…) E caindo em si [Pedro], começou a chorar.


4 João 21.15-17: Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu- lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas- me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.

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