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PECADO?


Euler Sandeville Jr,
25/06/2018


Muitos considerarão este assunto incômodo e que seria melhor eu não tocar. Talvez fosse melhor, mas não seria sincero. De qualquer modo, acho que, a exemplo de outras ideias tão repetidas, perdeu-se a parte do sentido mais importante dessa palavra.

Literalmente, a palavra que traduzimos por pecado (ἁμαρτία, ας, ἡ, hamartia gr) significa “errar o alvo”, “perder o alvo”. Nesse sentido, não é uma coisa em si, é uma atitude e um processo.

A Wikipedia, falando de seu sentido clássico, diz que “Na tragédia, hamartia é comumente entendido como se referindo ao erro do protagonista ou à falha trágica que leva a uma cadeia de ações do enredo, culminando em uma inversão de sua boa sorte para ruim.”. Essa é uma ideia importante, trata-se de um processo, um encadeamento, não apenas de um momento.

A carta de Tiago (1.13-16) descreve bem o processo que leva ao pecado:

Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Não vos enganeis, meus amados irmãos.

Seu sentido mais profundo é de que, ao invés de olhar para Deus, de buscá-lo, de amá-lo, você perde o alvo e volta-se para você mesmo, como se visse só o que lhe atrai de imediato, ou para as coisas em si mesmas, e afasta-se de Deus. Claro, há uma dimensão cósmica no pecado, nesse erro de alvo, e há consequências. Esse afastar-se de Deus é o afastar-se da própria fonte da vida.

Mas as coisas não terminam necessariamente no erro do alvo. Daí o arrependimento, palavra também mal compreendida a que me referi na postagem 05: o retomar o rumo com Deus. Veja: não só para Deus, mas com Deus. Este é o sentido básico dessas duas palavras que são tão mal interpretadas.

O pecado é perder o alvo, é errar a direção, e não há direção mais sublime do que Deus. Já arrependimento é a decisão de mudança de direção e de pensamento, é a correção da direção. Não se trata de uma coisa moral, é espiritual. Há dois níveis aqui.

Um, o de uma existência longe de Deus, na ignorância de Sua existência, apartado Dele, desconhecendo o que Dele vem. Neste caso, o arrependimento é a firme decisão de querer a Deus, de entregar-se uma vez por todas a Ele. É a mudança de mente (pensamento) e direção da vida como um todo. O segundo nível, é o dos erros do caminho, mais episódicos. O primeiro é uma condição ontológica, a própria essência e condição em que se escolhe usufruir a vida. O segundo, se a condição ontológica já experimentou a mudança para Deus em Cristo, é momentânea, mas ainda assim é afastamento de Deus; indica a contínua necessidade de aperfeiçoamento no caminho, porque não somos perfeitos e somos afetados por nossos erros, por vezes com graves consequências.

Vou repetir então o que escrevi na postagem anterior. É por isso que quando Jesus começa suas pregações, seu convite não é à culpa, mas à restauração. A uma mudança de mente e de direção. Do próprio ensimesmamento e aprisionamento em si, para Deus. Não se trata de ficar parado onde está, e sim de mudar de direção: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mateus 4.17). Esse arrependei-vos não tem a ver com a culpa, mas com uma decisão de mudar de direção e, no caso, com salvação, que é conhecer a Deus.

Aqui, é o primeiro caso que mencionei acima. O convite de Jesus é a essa conversão para Deus, a decisão de abandonar uma existência sem Ele e caminhar com Deus. O pecado é, antes de mais nada, viver e andar sem Deus.

Mas, de novo, chegamos no mesmo ponto: “

Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37-39). Em seguida, Jesus acrescenta: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.” (v. 40).

Dizer a Lei e os Profetas equivale simplesmente a dizer toda a Escritura decorre desses dois mandamentos, não apenas de um, mas dos dois.

Espero que fique clara a diferença entre o erro que traduzimos por pecado e uma visão meramente moralista da vida, sem espiritualidade. Bem como o sentido do arrependimento.

Ambos são atitudes, que brotam do coração e se realizam na concretude da existência, mas seus resultados são opostos. O afastamento de Deus leva à morte, à prisão em si mesmo, à distância da presença de Dele. Este é o erro do alvo, o desvio do caminho, o pecado. O arrependimento não é uma finalidade nem penitência, muito menos culpa, é um movimento em direção a Deus, que abre aquele que se arrepende para a vida, o amor, a transformação que o amor opera pelo conhecimento de Deus em Cristo.

Ainda assim, a motivação não é a transformação como se dá para o moralista. Este está preocupado com o comportamento, com o socialmente aceito, mesmo que muitas das preocupações possam ter sentido. Rapidamente deforma-se na justiça própria, ou da satisfação da aceitação social. Isso não tem nada a ver com o arrependimento e com a vida cristã, embora a vida cristã preze valores claros decorrentes desse amar a Deus e ao próximo.

Então, deixemos o moralista em seu próprio lugar. O arrependimento é outra coisa. A motivação é o próprio Deus. É a Ele que buscamos, e a transformação não é um alvo em si mesma, é decorrência de que O amamos. Pelo muito amor com que Ele nos amou, sendo nós pecadores, respondemos com amor a Ele. É uma resposta de amor, e o amor traz crescimento e aprendizagem; o amor a Deus traz e ensina o amor ao próximo.

As Escrituras nos mostram a diferença clara entre esses dois caminhos. Seguirei aqui apenas o que está em Colossenses 3. Porque é suficiente para deixar clara a diferença entre os dois caminhos. Usando no texto a metáfora do despir-se e do revestir-se, as Escrituras nos mostram a mudança de caminho que está proposta, o arrependimento não é apenas um momento, é uma decisão, é um processo continuado de mudança, em que não se está pronto de uma vez por todas, e as questões não são morais, são interiores.

No primeiro caminho, em que impera o pecado (tratado também como um processo, como vimos), encontramos coisas como prostituição, impureza, lasciva, desejo mau, avareza (que é idolatria), ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena, mentira e engano. Essa lista pode ser ampliada. São todas coisas que existindo dentro da pessoa, na verdade, além de fazerem mal a ela, atingem, contaminam e amaldiçoam ao outro. Esse caminho produz para nós mesmos e para os outros coisas ruins. Não estão necessariamente juntas, mas revelam uma inquietação constante e profundo embrenhamento em si mesmo, no próprio ego, na própria satisfação, no próprio universo de relações e interesses.

No segundo caminho, o que se dirige alto, a Deus em Cristo, o que está proposto é a liberdade das cadeias do primeiro caminho. Nesse caminhar com Deus vamos então sendo revestidos de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade (paciência), de apoio uns aos outros e perdoando-nos mutuamente. A atitude de mudança, o deixar uma coisa e revestir-se destas, indica que se trata de um outro processo. Conclui o texto em Colossenses: “…acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição”.

Esta é a “prova dos nove” de quem está nesse caminho. Não se engane quanto a isso, a prova não é se fala direitinho, se não se irrita, se não se prostitui ou não adultera, se não rouba algo no trabalho. Claro, no caminho de Deus nos despimos dessas coisas e nos revestimos de ternos afetos, bondade, misericórdia. Então, preste atenção, a prova dos nove não é o que não fez, por mais importante que seja, mas “o amor, que é o vínculo da perfeição”. Neste caminho, há alegria interior e, havendo essas coisas no interior de uma pessoa, na verdade abençoa ao outro.

Não é este o sentido proposto por Jesus nas passagens acima? Uma mudança de rumo em direção ao amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.


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