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MUDANDO DE DIREÇÃO (SOBRE ARREPENDIMENTO)


Euler Sandeville Jr,
20/06/2018


Acredito que muitas pessoas queiram crescer, superar-se. Mas nem sempre acertamos. Por vezes, quando nos tornamos conscientes de que erramos, enfrentamos um sentimento de tristeza. Uma certa decepção. Não falo aqui da situação em que a pessoa tem tão baixa autoestima que se atribui o erro que não cometeu. Essa é outra história. Estou falando de quando realmente erramos e sabemos disso. Culpa, remorso, arrependimento, são então possibilidades, e algumas podem se tornar tão graves quanto a indiferença e negação do erro que nos torna acostumados a ele, indiferentes, até cínicos ou inconsequentes, frequentemente irritadiços.

O maior risco, e muitas vezes difícil de ser evitado, é quando transformamos a consciência do erro em culpa. A culpa, paradoxalmente, é uma forma de autossatisfação, ainda que invertida. É um sentimento no qual atribuímos a nós mesmos a tarefa de punirmo-nos pelo erro. Por vezes isso torna-se profundamente arraigado, um acúmulo que se esconde nas sombras da mente. Mas está lá!

A consciência do erro corre o risco de se transformar na inconformidade, não com aquilo em que erramos, mas com não sermos a própria grandeza que imaginávamos ou gostaríamos de imaginar. Antecipamos o castigo que julgamos merecido, antecipando externa e ou intimamente a repreensão que julgamos merecer. Quando ocorre dessa forma, alguns sentimentos podem se tornar dominantes, um sentimento de culpa, que nos mantém presos na consciência do erro, congelados nesse impasse, ou ainda o remorso, uma forma geralmente mais branda, um remoer-se que geralmente procura naturalizar o acontecimento.

Sentimentos como esses geralmente não operam transformação e libertação; ao contrário, nos mantém cativos do padrão que não atingimos e da dívida que estabelecemos. Muitas vezes levam a uma ação contrária, visando, ao invés de superar e restaurar, esconder essa condição. Não raro, nesse estágio, só resta dividir essa culpa com outros, reconhecendo-os também culpados, sejam ou não. Toda culpa caminha a ser cruel consigo e, em alguns casos, ainda mais, ao voltar-se sobre o outro. Jesus nos conta algumas parábolas de como jogamos a crueldade e insuficiência conosco mesmo sobre os outros (p. ex. A parábola dita “do credor incompassivo”). Observe que o servo da parábola é intransigente, e ele mesmo um grande devedor, tornando-se um cruel cobrador. A lição do texto deve ser clara para os cristãos e, creio, seja útil para todos:

Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão. (Mateus 18.23-35)

Nenhum desses sentimentos que tratei até aqui tem qualquer coisa a ver com arrependimento. Pelo menos, não no sentido das Escrituras.

Arrependimento, em nossa cultura, se tornou correlato da culpa em algum nível, algo como remoer o que se faz ou fez. O arrependimento não tem a ver com a culpa. A culpa tem a ver com juízo, com punição; não querendo ser punido por outrem ou por Deus, a própria pessoa se torna o algoz de si mesma. De certo modo, uma das funções da culpa é o castigar-se a si mesmo, para escapar de um juízo externo. É um sentimento muito difícil de ser superado e pode corroer interminavelmente.

A culpa refere-se ao castigo merecido ou esperado, que pode ser duradouro, ao juízo. O arrependimento, ao contrário, refere-se à restauração. Como?

A palavra no Novo Testamento que traduzimos por arrependimento – e ficou tão alterada em nosso entendimento coloquial – tem um sentido bem mais forte e rico do que esse que usualmente lhe atribuímos. A palavra é metanoia (μετάνοια, ας, ἡ), e não tem conotação alguma de culpa. Significa literalmente “mudança de pensamento e de rumo”. Arrependimento, em nossa cultura, infelizmente é algo como lastimar-se, remoer-se. Sugere certa passividade, um atrair o peso para si mesmo. Nas Escrituras, felizmente, é uma ação, é uma atitude positiva, de mover-se: é mudar de rumo, é ter escolha.

É por isso que quando Jesus começa suas pregações, seu convite não é à culpa, mas à restauração. A uma mudança de mente e de direção. Do próprio ensimesmamento e aprisionamento em si, para Deus. Não se trata de ficar parado onde está, e sim de mudar de direção: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mateus 4.17). Esse arrependei-vos não tem a ver com a culpa, mas com uma decisão de mudar de direção e, no caso, com salvação. A palavra é Metanoeite, e poderia ser traduzida melhor por “mudai o pensamento”, “tranformai a mente”, “mudai de propósito”.

Por que isso é importante? A nossa sociedade parece estar olhando demais para a culpa, muito pouco para a superação e a restauração. Uma sociedade não é uma entidade abstrata, são pessoas que a fazem, que a definem, que direcionam seus caminhos e estabelecem os valores que lhe são suficientes e nela disseminam-se e percolam. É importante, porque parece que nos tornamos todos excelentes juízes uns dos outros, vemos bem os erros e nos atravessamos de culpas, mas pouco nos interessa a restauração, que demanda amor e demanda atitude. Bem disseram Tiago (Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo? – Tiago 4.12) e paulo (Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas, quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas, praticas o mesmo. – Romanos 2.1). Por isso nestes textos estou refletindo sobre o nosso tempo e sobre mim mesmo, sobre as coisas em que preciso mudar, corrigir e crescer, no meu caso, a partir de minha busca de comunhão com Deus em Cristo.


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