O QUE A LEI MOSAICA EM LEVÍTICO DIZ PARA NÓS HOJE? DIZ, OU ESTÁ SUPERADA?

Muitas vezes temos dificuldades na leitura da Lei mosaica, com sua complexidade das práticas litúrgicas e outras regras. Levítico, o terceiro livro do Pentateuco, é um desses livros totalmente focado nos preceitos da Lei. Daí, nem sempre é uma leitura fácil para nós hoje, muito habituados que estamos com as formas modernas e pós-modernas de pensar e relacionarmo-nos. Mas a Lei, e nela o livro de Levítico, é exatamente sobre isso, sobre o relacionarmo-nos.

Como entender então esse livro? Seus ensinos dizem algo para nós hoje e para o momento social, político e religioso que estamos atravessando e vivenciando?

Bem, só esta forma de dizer já mostra que somos pessoas de uma modernidade estranha às Escrituras, pós-iluministas, ainda positivistas em grande medida, embora em meio à fragmentação discursiva e disputada das (não)verdades pós-modernas. Não só isso, mas temos toda uma secular leitura cristã das Escrituras, que muitas vezes a lê como coisa antiga e superada, sem atentar sequer aos seus princípios nos profetas e nos Evangelhos, em especial aos ensinos de Jesus sobre a Lei.

Pois lhes asseguro que, ainda que tenhamos dificuldades compreensíveis em sua leitura, o livro de Levítico tem muitíssimo a nos ensinar, e a nos advertir nos dias de hoje. Seu capítulo 19 é particularmente elucidativo do que Deus pretendia na ocasião do êxodo com a Lei. Mas já nos distanciamos por 3 milênios desse momento extraordinário. Como espero poder mostrar, no entanto, seus ensinos são particularmente elucidativos para as nossas questões hoje.

A primeira coisa a se fazer é entender que, quando falamos em lei, temos hoje um pensamento muito demarcado por proibições e concessões de natureza civil, e por punições. Mas o sentido da palavra hebraica é diferente, significa Instrução. Ora, é justamente esse o significado da palavra Torá, que define os livros do Pentateuco: Instrução, Lei.

Ao nos referirmos a esses livros por Pentateuco, embora correto, porque significa literalmente cinco partes ou seções, ou seja, os cinco rolos (livros) - “Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio” - já podemos estar nos dando, hoje em dia, uma leitura reduzida ou superficial do que significam. Claro que meu conhecimento e entendimento são limitados, e ressinto-me também dessa distância; mas vejo que temos muito a aprender para nossas práticas no Caminho hoje.

Da mesma forma que Pentateuco, o nome Levítico, que faz uma referência aos levitas, pessoas separadas em Israel para o sacerdócio e o cuidado das coisas sagradas. Penso que é significativo que, no contexto da cultura helenística, de onde vem muito do que entendemos por cultura ocidental, tenha se preferido esse nome que faz menção ao litúrgico para o livro, focando nas regras e obrigações sociais e litúrgicas, distanciando-se do nome como no hebraico, como veremos a seguir.

A Lei, antes de ser proibição, punição, concessão é, no pensamento judaico e no cristão originário, Instrução. A Bíblia está repleta de exemplos em que a mera obediência formal é condenada por Deus e nos ensinos de Jesus.

Mas deixemos o Livro falar: INSTRUIR.

Aliás, é esse o propósito do livro de Levítico, cujo significado no hebraico é bem outro. A palavra hebraica que inicia o livro e lhe dá o nome pode ser traduzida como DEUS CHAMOU!

E chamou para que? Para INSTRUIR! O livro de Levítico começa assim:

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