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INTRODUÇÃO À BÍBLIA:

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HÁ UMA BÍBLIA CATÓLICA, OUTRA JUDAICA E OUTRA PROTESTANTE?


Euler Sandeville Jr,
São Paulo, 05 de maio de 2016. Versão atual de 14 de dezembro de 2018.


Não há uma Bíblia católica ou protestante, porque a Palavra de Deus não é desta ou daquela igreja ou religião, é Palavra de Deus. Há um só Deus, há uma só Palavra de Deus. O que há são encadernações diferentes dos mesmos livros, chamados canônicos, para católicos, judeus e protestantes, e para os católicos há mais alguns livros ou trechos que são chamados deuterocanônicos (de deutero=segundo+canônicos, escritos no período helenístico). Mas como isso aconteceu?

A formação da Igreja Católica, tanto em sua especificidade histórica quanto em processos que remontam à dispersão dos judeus no período interbíblico (séculos IV a I a. C., em especial com a tradução do hebraico para o grego na Septuaginta), levou a alguns acréscimos ao cânone do Antigo Testamento que depois foram fixados como parte das escrituras em Concílios da Igreja Católica e que não são aceitos nem pelos protestantes nem pelos judeus.

Não há qualquer nenhuma diferença entre os cristãos com relação ao Novo Testamento, formado por 27 livros que, obviamente, não são aceitos pelos judeus. Exclusivamente no que se refere ao Antigo Testamento, há uma diferença entre a Bíblia utilizada por protestantes e judeus e a Bíblia utilizada por católicos, bem como entre estes e os ortodoxos. Embora os livros das Escrituras do que cristãos chamam de Antigo Testamento, e os judeus de Tanakh, sejam os mesmos para judeus e protestantes, são encadernados em uma ordem diferente (veja essa ordem em outro artigo desta seção).

De onde seque que a maior parte dos livros do Antigo Testamento é exatamente a mesma para cristãos e judeus. Se é assim, de onde veem então essas diferenças entre as encadernações católicas e o cânon judaico e protestante? Essas adições na Bíblia utilizada pelos católicos de fato existem e há uma causa histórica para isso, que mencionaremos resumidamente a seguir.

Por hora, é importante saber que para todas essas confissões 39 livros são comuns a todos os cristãos e judeus. Como os 27 livros do Novo testamento são comuns a todos os cristãos, os 66 livros das escrituras são comuns a todos os cristãos e 39 livros do Antigo Testamento são comuns a todos os cristãos e judeus.

Podemos resumir assim:

  • 39 livros do Antigo Testamento são comuns a todos os cristãos e judeus.
  • 27 livros do Novo Testamento são comuns a todos os cristãos.
  • 7 livros e pequenos acréscimos em poucos livros são incluídos apenas na Bíblia católica e ortodoxa.

A coleção de livros que se adota como sendo inspiradas é chamada de cânon (em hebraico qenéh e no grego kanón), significa "régua" ou "cana de medir". A adoção desse termo decorre de que toda a medida exige um padrão rigoroso, e essa cana de medir é exatamente esse padrão, que permite verificar a exatidão da medida. Para a Bíblia, o cânon indica a coleção de livros que é a Palavra de Deus. Os 66 livros que são comuns a todos os cristãos são chamados por isso de canônicos (conforme o cânon).

Entretanto, para o Antigo Testamento nas Bíblias católicas contam com mais 7 livros e adições em Ester e Daniel que os protestantes (ou evangélicos) não aceitam, entre outras razões, porque não existiam no cânon hebraico.

Os que são aceitos somente por católicos ou ortodoxos são por isso chamados de deuterocanônicos (deutero significa segundo, seriam então um segundo cânon), embora para judeus e protestantes sejam considerados apócrifos (do grego apokryphos, que significa oculto, o que não é autêntico, o que não é verdadeiro). Os chamados deuterocanônicos não estão incluídos no Tanakh hebraico. A denominação de deuterocanônicos parece-me aceitável porque, mesmo não sendo inspirados, os diferencia de outros livros apócrifos e minimiza antagonismos desnecessários; tenderei a referir-me a esses livros dessa forma por esta razão.

Segundo a Wikipedia, o termo apócrifo teria sido "criado por Jerônimo, no quinto século, para designar basicamente antigos documentos judaicos escritos no período entre o último livro das escrituras judaicas, Malaquias e a vinda de Jesus Cristo". Se correta, a referência é importante para as discussões da formação do cânon e diz respeito a Eusébio Sofrônio Jerônimo, de Estridão (cerca de 347 a 420), um importante teólogo e tradutor da Bíblia, considerado Doutor da Igreja pela Igreja Católica.

Jerônimo realizou ainda no século IV uma tradução para o latim da Bíblia, a partir dos originais hebraicos cotejados com a Septuaginta (uma tradução do hebraico para o grego realizada por volta do século III a. C. por judeus que viviam fora da Palestina, que incluiu livros que não constavam do cânon hebraico). Porém Jerônimo não incluiu os livros hoje chamados de deuterocanônicos, reforçando o argumento sobre a não aceitação dos deuterocanônicos ainda no período de formação da Igreja Católica. Inicialmente, fez uma revisão das traduções latinas (Vestus Latina e Ítala) e depois aprofundou os estudos procurando rever a tradução a partir de manuscritos em hebraico e grego, chegando, entretanto, a traduzir do grego os deuterocanônicos Tobias e Judite. Sua tradução gerou o que viria a ser conhecida depois como a Vulgata, porque utilizou o latim comum.

As versões posteriores aos Concílios Católicos que consideraram integrantes da Bíblia os que chamamos de deuterocanônicos, passaram a incluí-los. A Vulgata veio assim a ser adotada pela Igreja Católica como versão oficial a partir de sua revisão desde o Concílio de Trento (1546), até o Concílio de Vaticano II (1961), que ordenou sua revisão e editou a Nova Vulgata (terminada em 1975, e promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de abril de 1979). O Concílio de Trento ocorreu no contexto político e religiosos do século XVI, quando a chamada reforma protestante começava a questionar a inclusão dos apócrifos entre os livros sagrados por não integrarem o cânon hebraico, gerando essa diferença que persiste até hoje nas Bíblias católicas e protestantes.


Saiba mais sobre a Septuaginta (LXX) e os deuterocanônicos


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