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PAISAGENS PARTILHADAS: CONCEITOS E MÉTODOS / PLANEJAMENTO E GESTÃO
vegetação nativa, Euler Sandeville Jr. (1997)
artigo para apoio didático

Ao olharmos para uma determinada formação vegetal na paisagem, podemos não detectar a complexidade de fatores implicados, quer em sua manutenção, quer em sua alteração. Podemos não avaliar corretamente o acervo cultural e econômico representado direta e indiretamente por ela. Envolve uma série de conhecimentos de ordem científica e vivencial, historicamente construídos, por vezes associados a culturas locais e à sobrevivência de populações humanas que dependem diretamente dos recursos naturais, inclusive as grandes aglomerações urbanas.

Uma área extensa ao nosso olhar pode ser pequena do ponto de vista da manutenção dos processos naturais e da vida silvestre, de modo que a apreciação dessas áreas exige conhecimentos fundamentados sobre a dinâmica da paisagem. Por outro lado, tais formações que integram a paisagem de uma nação e de suas regiões têm adquirido nas diversas culturas sentido histórico, simbólico, afetivo, na formação da identidade dos povos , cujos valores transcendem aqueles que podem ser contabilizados enquanto riqueza material. Portanto, concluímos que os processos implicados devem ser entendidos no tempo da cultura e da natureza, e não como uma imagem fixa da qual disporemos para sempre, como quisermos. Assim, os estudos da vegetação devem considerar alguns aspectos que mencionaremos a seguir.

Composição

A flora é o elenco de classes taxonômicas – famílias, gêneros, espécies -, que ocorrem em determinado local. A identificação das espécies é feita principalmente a partir da flor e é um trabalho bastante complexo, exigindo um especialista. Daí as coletas devem obedecer a regras a fim de garantir a preservação do material coletado em campo para os estudos taxonômicos.

Estrutura

A fitossociologia promove estudos que visam uma descrição quantitativa da vegetação, a partir de técnicas estatísticas. Espera-se uma análise objetiva objetiva da estrutura da vegetação e seu monitoramento no tempo. As amostragens realizadas em campo valem-se de critérios e técnicas diversos que dificultam a comparação dos diferentes estudos. Em geral, esses estudos referem-se aos estratos arbóreos e possibilitam a descrição de parâmetros como distribuição, frequência, volume, altura, importância etc. e seu papel no conjunto dos indivíduos amostrados.

Fisionomia

Pode ser registrada a partir de perfis realizados em determinado corte no ambiente, mostrando as formas de vida que ocorrem e o aspecto do arranjo entre elas. Esse aspecto tende a ser característico da situação que está sendo estudada.


Fisionomia da vegetação. Floresta tropical. Org. Euler Sandeville


Fisionomia da vegetação. Cerrado. Org. Euler Sandeville

Percepção e fruição

Embora para as ciências naturais os aspectos fruitivos não sejam geralmente levados em conta, estão entre os mais importantes nas áreas das ciências humanas. Interessa-nos a percepção individual e também a apreciação e valoração ao espaço por grupos diversos. é comum o emprego de técnicas de pesquisa baseadas em questionários dirigidos aos grupos que se deseja avaliar, mapas mentais, registros diversos que podem ser artístico-expressivos ou documentais. Arquitetura e urbanismo, geografia humana, antropologia, semiótica e outras disciplinas têm desenvolvido estudos de percepção ambiental.

Ecologia

O entendimento da dinâmica natural de determinada formação depende da correlação entre os fatores físicos do ambiente, como temperatura, vento, solos etc. e os fatores biológicos, como a interação e competição entre os indivíduos e espécies, os agrupamentos, as formas de vida etc. O ecossistema é um sistema aberto de influências mútuas entre os componentes de uma comunidade e desses com o meio abiótico, estabelecendo fluxos energéticos, ciclos biogeoquímicos (água, carbono, nitrogênio, por exemplo), interações entre populações, em evolução temporal, ocorrendo e abrangendo esses processos e eventos em diversas escalas espaciais interativas. O conceito de sucessão ecológica é básico nos estudos de ecologia vegetal.


Odum. Diagrama funcional de um ecossistema

Fitogeografia

A distribuição da vegetação obedece a aspectos geográficos abrangentes, como o clima, o relevo, a geologia. Diversos estudos têm sido feitos, propondo uma divisão da distribuição dos biomas no território, desde a escala planetária ou a continental até outros recortes que são políticos e administrativos, como as nações ou uma região de um Estado. Não há consenso sobre as divisões e sobre os aspectos que devam ser levados em conta, de modo que há várias divisões propostas para o Brasil e para o Estado de São Paulo. Em princípio, aceita-se que a distribuição natural da vegetação decorre de processos pretéritos, isto é, a distribuição atual das formações vegetais e sua composição não é estática no tempo, e que esse processo explica a distribuição da flora característica a cada região, havendo também espécies e gêneros com uma distribuição geográfica muito ampla.

Biodiversidade e conservação

O conjunto de conhecimentos que podemos reunir sobre a vegetação nos diversos lugares e regiões mostram a importância do entendimento desse complexo acervo natural como pressuposto para a intervenção humana, quer para a exploração econômica, quer para sua conservação. A preservação das espécies pode ocorrer de dois modos: ex situ, isto é, em locais onde grupos de espécies são cultivadas, como Jardins Botânicos e Parques, e in situ, através de Reservas Ecológicas, Parques Nacionais etc.. Os conhecimentos sobre os ecossistemas tropicais são ainda bastante incipientes. A apropriação do território pela nossa sociedade é predatória, levando à extinção irresponsável de inúmeras espécies e mesmo de formações inteiras, como é o caso da mata atlântica no nordeste ou das formações vegetais no Estado de São Paulo, cuja composição e estrutura original não são representados pelos remanescentes que temos.

Por outro lado, as tecnologias de que dispomos atualmente fazem com que governos passem a olhar esse acervo natural remanescente como possível fonte de recursos. Há, entretanto, questões menos imediatas que mostram a importância dos remanescentes de vegetação natural para a própria existência do ambiente urbano, na medida em que estas dependem desses recursos. Finalmente, os estudos sobre a vegetação nativa e sua conservação tendem a ocorrer de modo cada vez mais integrado, demandando uma ciência de síntese dos campos disciplinares, tal como já ocorre com a disciplina denominada Ecologia da Paisagem.

Por biodiversidade não se deve entender apenas um conceito quantitativo da riqueza de espécies em uma ambiente. É necessário entende-la também em suas relações ecológicas. Assim, a “Biodiversidade é a totalidade dos genes, espécies e os ecossistemas de uma região” (Dias 1992)

Para Danserau, 1992, a problemática da diversidade [mas podemos pensar também em biodiversidade] está na interface da hereditariedade com o meio, daí propondo sua abordagem no nível do indivíduo (genótipo e fenótipo, sendo que este inclui a população) e do meio (cenótipo- comunidade e ecossistema, e geótipo- bioclima e biota).


Danserau, 1992.

Do ponto de vista do gerenciamento do ambiente, há que se entender esta em sua dimensão política e do ponto de vista técnico dos processos naturais integrados e condicionados pelos processos sociais. A contribuição do arquiteto deve trazer uma discussão sobre os modos pelos quais temos produzido nossas paisagens, e do ponto de vista do paisagismo, do papel dos espaços livres regionais e urbanos na configuração da paisagem, na conservação biológica, na apropriação social do espaço.


Processos de fragmentação da vegetação




para citar este artigo:


SANDEVILLE JR., Euler. “Vegetação nativa”. Biosphera21, on line, 1997. Disponível em http://biosphera21.net.br/7-APOIO-PAISAGEM-ecologia-vegetacaonativa.html acesso em XX/XX/201X.





bibliografia citada neste artigo

DANSERAU, Pierre. Biodiversidade - ecodiversidade - sócio-diversidade. in Anais do 2º Congresso sobre essências Nativas. São Paulo, Secretaria de Meio Ambiente, 1992, vol.1, p. 22-28.

DIAS, B. F. Estratégia Mundial para a Biodiversidade. in ANAIS do 2o Congresso Nacional sobre Essências Nativas. São Paulo, Secretaria de Meio Ambiente, 1992.

ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.


para maiores informações veja

SANDEVILLE JR., Euler. As sombras da floresta. Vegetação, paisagem e cultura no Brasil. São Paulo, Tese de Doutoramento, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1999, cap 3: A Dinâmica Natural das Florestas, p. 51-105.

SANDEVILLE JR., Euler . A dinâmica natural das florestas. [enviado 2002] Paisagem e Ambiente, v. 27, p. 55-70, 2010. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2359-5361.v0i27p53-70







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Animação de Euler Sandeville, provável 2001


religare ↑

espiral da sensibilidade e do conhecimento ↑



uma proposta de Euler Sandeville Jr.



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